quinta-feira, abril 22

o teu nome.

Soube, mal ouviu o seu nome, que ela era especial.


Tirava vagarosamente a bata azul escura de interno do armário castanho e vazio. As conversas à volta dissipavam-se no ar, enquanto ele não parava de fitar o fundo do armário - Perséfone - a palavra arrancou-o da escuridão.

Desviou finalmente o olhar do imenso castanho e olhou-a com fascínio. Não era bonita, mas também não era feia. Tinha olhos castanhos escuros e brilhantes e um sorriso nos lábios.

Os Bips tocaram em uníssono - fechou o armário e voltou-se rapidamente, embatendo contra o corpo fino. Ouviu-se um lamento e ambos caíram.

Durante todo o dia, lembrou-se dela, imaginou-a, relembrou-a. Tentando precisar qual o ponto dela que o fascinava, ou seria só aquele nome, enigmático e de deusa. Não sabia de pessoa com aquele nome.

Na hora do almoço foi falar-lhe, voltando para a sua mesa pesaroso, perante a indiferença e arrogância que ela lhe mostrou. De certa forma magoado, prometeu a si mesmo não voltar a falar a tal criatura de nome tão cativante e feitio tão desprezível.

Meses depois, foi ela a falar-lhe. Numa noite trovejante, no bar perto do hospital. Começou por lhe pedir desculpa, pelo primeiro dia. Depois beijou-o. De todo o mar de emoções que ela lhe trazia, não esperava que aqueles lábios fossem tão gelados e amargos. Empurrou-a com o máximo de delicadeza que conseguiu e levantou-se para sair.

És exactamente o que eu teu nome conta.

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